maio 28, 2004

Adolfo...



ao som de Mão Morta... um canibal, que me consome o ser...

ontem comecei...

ontem,
comecei a matar-te,
meu amor
agora, amo o teu cadáver...
quando eu estiver morto,
o meu pó gritará por ti...


Ontem comecei, Müller no Hotel Hessischer Hof

maio 25, 2004

os sons que me acompanham...

Air - 1er Symptoms
dEUS - The Ideal Crash
Nirvana - In Utero

...nirvana...

def. nirvana no budismo, extinção definitiva do sofrimento humano alcançada por meio da supressão do desejo e da consciência individual




milk it

I am my own parasite
I don't need a host to live
We feed off of each other
We can share our endorphins

Doll steak!
Test meat!

Look on the bright side is suicide
Lost eyesight I'm on your side
Angel left wing, right wing, broken wing
Lack of iron and/or sleeping

I own my own pet virus
I get to pet and name her
Her milk is my shit
My shit it is her milk

Test meat!
Doll steak!

Look on the bright side is suicide
Lost eyesight I'm on your side
Angel left wing, right wing, broken wing
Lack of iron and/or sleeping


(in NFC: The Internet Nirvana Fan Club)

maio 24, 2004

álvaro de campos... um qualquer pessoa...




Adiamento

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
O porvir...
Sim, o porvir...


Álvaro de Campos

maio 19, 2004

as palavras, os sons e agora... as imagens...

finalmente começo a entrar nisto...
aqui fica a minha primeira fotografia... :)

E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
«Já fui um dia poeta como tu...
Ainda hás-de ser tília como eu sou...»

Florbela Espanca

maio 17, 2004

por falar em shriekback...

This Big Hush

Is there a fire in the sky
Is there a moon up there
Is anything alive now
This darkness is what I hear
This is a breathless silence
A moment out of time
I see your face in the shadows
The tell-tale signs are in your eyes

More than I can hold in my hand
Running through the gaps like water
Aching with a passion inside
Deep as the river
All desire
The ashes and the fire
Turning this night inside
And the light from you

Is there a flame in the dark
is there a bright heart star
These creatures look the same now
We freeze wherever we are
We wake alone in the blackness
We sleep whenever we fall
One dream all around us
This big hush infects us all

Holding up an animal fear
Soaking up the waves underwater
Tuned to music no-one can hear
Forever in this half-light
All desire
The ashes and the fire
Turning this night inside
And the light from you

All desire
The ashes and the fire
Turning this night inside
And the light from you

More than I can hold in my hand
Running through the gaps like water
Aching with a passion inside
Deep as the river
All desire
The ashes and the fire
Turning this night inside
And the light from you

All desire
The ashes and the fire
Turning this night inside
Turning this night inside
Turning this night inside
And the light from you


Shriekback, This Big Hush (Oil & Gold, 1985)

al berto...

ao som de "coelocanth" dos shriekback...
as palavras sábias e a voz rouca de al berto... a quem presto a minha homenagem hoje...

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentado à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade


al berto

...sounds...

de uma tarde de trabalho... :)

Clã - Kazoo
Deftones - Deftones
Eels - Beautiful Freak


hoje são os Eels...


FLOWER

turn the ugly light off god
wanna feel the night
everyday it shines down on me
don't you think that i see
don't you think that i see what it's all about
hard to look the other way
while the world passes me by
and everyone is trying to bum me out


it's a pretty big world god
and i am awful small
everyday they rain down on me
flower in a hailstorm
flower in a hailstorm
i'm living for the drought
i could throw it back at them
but then i play their game
everyone is trying to bum me out


when i came into this world they slapped me
and everyday since then i'm slapped again
tomorrow's king: an unsightly coward
you see, i know i'm gonna win


turn the ugly light off god
don't wanna see my face
everyday it will betray me
don't you think that i know
don't you think that i know
what they're talking about
if they step on me tonight
they're gonna pay someday
everyone is trying to bum me out


(in EELS official website)

maio 13, 2004

ornatos...

aqui está a minha homenagem aos que nos acompanharam nos intervalos dos concertos da noite de ontem...
os saudosos Ornatos Violeta...

Chaga

Foi como entrar, foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou...
Uma chaga para lembrar que há um fim

Diz já sem querer poupar meu corpo eu há não sei quem te abraçou
Diz que eu não senti teu corpo sobre o meu
Quando eu cair eu espero ao menos que olhes para trás
Diz que não te afastas de algo que é também teu

Não vai haver um novo amor
Tão capaz e tão maior
Para mim será melhor assim
Vê como eu quero e vou tentar
Sem matar o nosso amor
Não achar que o mundo é feito para nós

Foi como entrar, foi como arder
Para ti nem foi viver
Foi mudar o mundo sem pensar em mim
Mas o tempo até passou
E és o que ele me ensinou...
Uma chaga para lembrar que há um fim
Uma chaga para lembrar que há um FIM


Ornatos Violeta, Chaga

maio 11, 2004

...Dalí, o Salvador...

"Não compreendo como é que o Homem pode ser capaz de fantasiar tão pouco"
Salvador Dalí



aqui presto a minha humilde homenagem ao mais fascinante e controverso artista... Salvador Dalí.
faria hoje 100 anos...

(caricatura in a cabra, jornal universitário de coimbra, posted 19 Maio, 2004)

maio 06, 2004

Houdini Blues...

...das palavras de Kristin ao som dos Houdini Blues...
(a minha humilde homenagem ao(s) amigo(s)...)

Oh no don't you put me in that box
you know what you can do with those locks
bet your life I'll come crawling out again
you'll have to deal with me then
you'll hear me in the wind.
I been on the other side of the Blue Ridge
seen the Shenandoah rolling there
I stepped off the mountain's edge
just to climb the golden stair
I seen the streets up there
I been on the mount transfiguration
been there with my ma and my pa
on the mountain of commandment
I been handed down the law
you should have seen what I saw.

I fell to the bottom of Thales' well
caught like a thief with a lamb
you know those stars they can cast a spell
I been caught with red hands.

I scaled the mountains skiied the valleys
I've done the highs and the lows
I don't feel like work today
hell I won't go.
Bess I won't go.

Just let me at their locks
we should all be free
oh Bess I swear I'll call
when I'm free from me
we should all be free.


Kristin Hersh, Houdini Blues

...uma tarde de chuva...

até apetece ficar em casa nestes dias de chuva... pois foi precisamente o que eu fiz!

aproveitei para não adiantar trabalho... como se não tivesse mesmo nada para fazer...
apenas estive por aqui, na net, na conversa e a ouvir música.
assim também se aprende...senão, vejam...

...sons de uma manhã chuvosa...

Carlos Barretto - Olhar
Wray Gunn - Soul Jam

... sons de uma tarde que teima em ser chuvosa...

Ursula Rucker - Supa Sista
Ursula Rucker - Silver or Lead
Houdini Blues - True Life is Elsewhere

... e a chuva continua pela noite...

Thievery Corporation - The Richest Man in Babylon
Thievery Corporation - Sounds from Thievery Hi-Fi

...palavras à chuva...

A uma rapariga

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste de uma flor!...


Florbela Espanca

maio 04, 2004

...os sons de hoje...

albuns...
Mão Morta - Nus
Björk - Family Tree
Spiritualized - Royal Albert Hall, October 10 1997 (Live)
Jorge Palma - Dá-me Lume

músicas...
Ornatos Violeta - Chuva
Sérgio Godinho - Balada da Rita
Sérgio Godinho - A vida é feita de pequenos nadas
Radiohead - There There
Björk - Pagan Poetry
Jane Birkin - Strange Melody (com Beth Gibbons)

balada de mim...

Balada da Rita

Disseram-me um dia, Rita, põe-te em guarda
aviso-te, a vida é dura, põe-te em guarda
cerra os dois punhos e andou, põe-te em guarda
e eu disse adeus à desdita
e lancei mãos à aventura
e ainda aqui está quem falou

Galguei caminhos-de-ferro (põe-te em guarda)
palmilhei ruas à fome (põe-te em guarda)
dormi em bancos à chuva (põe-te em guarda)
e a solidão, não erro
se ao chamá-la, o seu nome
me vai que nem uma luva

Andei com homens de faca (põe-te em guarda)
vivi com homens safados (põe-te em guarda)
morei com homens de briga (põe-te em guarda)
uns acabaram de maca
e outros ainda mais deitados
o coveiro que o diga

O coveiro que o diga
quantas vezes se apoiou na enxada
e o coração que o conte
quantas vezes já bateu para nada

E um dia de tanto andar (põe-te em guarda)
eu vi-me exausta e exangue (põe-te em guarda)
entre um berço e um caixão (põe-te em guarda)
mas quem tratou de me amar
soube estancar o meu sangue
e soube erguer-me do chão

Veio a fama e veio a glória (põe-te em guarda)
passearam-me de ombro em ombro (põe-te em guarda)
encheram-me de flores o quarto (põe-te em guarda)
mas é sempre a mesma história
depois do primeiro assombro
logo o corpo fica farto.

Andei com homens de faca (põe-te em guarda)
vivi com homens safados (põe-te em guarda)
morei com homens de briga (põe-te em guarda)
uns acabaram de maca
e outros ainda mais deitados
o coveiro que o diga

O coveiro que o diga
quantas vezes se apoiou na enxada
e o coração que o conte
quantas vezes já bateu para nada.


Sérgio Godinho
"Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes", Carlos Drummond de Andrade
SUPERAÇÃO

Fechei-me dentro dos muros
onde o meu corpo não cabia
contente de ser prisioneira
do cárcere que eu transcendia.

E fui no vento que tudo
tudo o que havia varria,
contente de ser mais veloz
que o vento que me impelia.

Fiquei suspensa dos ramos
que os meus cabelos prendiam
contente de ser o destino
da árvore em que me fundia.

E dei-me como leito às águas
dos sonhos que me transcorriam
contente de ser o curso
da água em que me esvaía.


Natália Correia

...uma tarde 'a tirar a espinha às horas'...

Gumes

1.
Na noite que se avizinha, um mar de gatos com cio invade os sotãos, ensanguentando as memórias com a dor pungente dos dias em que o gume, o terrível gume das horas afiadas, rasgava os espíritos. Já o clarão das ruas toldava os cérebros com angústias venenosas e vertigens de suicídios sonhadores, na vontade de fugir ao inóspito vazio do tempo da ausência...


2.
Acção!
Isto é um assalto!...
Todos de mãos no ar!
Não quero nem um gesto...

Passa p’ra cá esse vil carcanhol
Para irmos daqui sem funerais!...
Anda homem ou és um caracol?!
Não quero ficar aqui à espera dos maiorais...

(Vai junto à porta ver se o caminho está livre para a nossa saída...)

No chão! Quero toda a gente no chão...
Assim!... Vamo-nos pirar!...
Já!


3.
Eu sou estas mãos que se fendem na areia como um velho pau
A serpente que se arrasta o corpo em assaltos ao olho do cosmos
Tudo vem a mim a escura escama dura dos monstros do fogo
Um ventre de rei em corcel alado de freio nos dentes
Flash

Aí está Stanislau
Belo como estrela do mar gigante em asilo de lepra
A tirar a espinha às horas
Vem
Vem
Vem
Flash

Flores carnívoras passam sua língua no ventre do lacrau
Os seus lábios grossos deixam escorrer o esperma quente
Prova a minha orelha
Prova o meu caixão
A morte ronda
A vida cresce
Floresce
Flash
Amanhece


4.
Estou farto disto
Não posso mais
Todos os dias
Passam iguais
Como um fantasma
Com escorbuto
Corro a cidade na busca de um xuto
Speed ou heroa
Coca ou morfina
Tudo me serve
Como vacina
Desde que traga a santa narcotina
Furam-me os ossos
Caem-me os dentes
Reflicto ao espelho sinais indigentes
Mas o pavor
É da ressaca e da dor

Já desvairado
Com tanta volta
Sempre sem ver
Poda ou recolta
Fico em suores
Vem-me a carência
Sinto-lhe a mão sem qualquer clemência
Pica-me as pernas
Prende-me as costas
Fere-me os tímpanos
Em dores expostas
No rito ansioso do coçar das crostas
Não posso mais
Tudo o que eu quero
É ver-me livre deste ruim desespero
Um caldo tal
Que seja um ponto final


5.
O rei mimado está
Feliz e sem rival
E verte para mim
Cem gotas de água e sal
Aos saltos e pinotes
Percorre agora o chão
Mas pára p’ra lutar
À vista de um dragão
Batuques e tambores
Ilustram o combate sem dó
Alguém me afaga a lã
Me puxa num trenó
Me leva na manhã
Do sol-e-dó

Acordam os amores
No reino da paixão
São elfos e duendes que
Nos levam pela mão
As folhas são azuis
O sol vermelho está
A relva sua e diz que
A vida é um sofá p’ra gozar
São monstros de cordel
Histórias de encantar
No espelho de Babel
A festa não tem fim
Volteia agora o vento
E eu peço um gin


6.
Vamos lá então juntos recitar
Este belo acordo que nos vai ligar
Juro pela vida nunca me trair
Juro pela vida sempre resistir
Juro pela vida nunca obedecer
A qualquer vontade fora do meu ser
Juro pela vida sempre acreditar
No poder sagrado que nos faz amar
Juro pela vida sempre contrapor
O valor da festa contra o tédio em vigor
Juro pela vida todo me entregar
À paixão do jogo do corpo e do criar
Radical radical radical
Hei-de ser no agir no pensar
Só na luta há festa só na luta há gozo
Para ter um destino aventuroso
Eis o Graal nosso Graal

O mundo é nosso vamos a ele

O mundo é nosso não há que ter medo

O mundo é nosso vamos com ele brincar


7.
- Ouviste o que disse o aquecedor?
- Como?
- Repara na luz. Repara como muda de intensidade... Está a dizer qualquer coisa!
- Mas isso é um aquecedor, não fala!!!
- Shut!... Não ouves o murmúrio?... Está a dizer qualquer coisa!
- Mas isso é o barulho da electricidade a passar...
- Shut!... Escuta!...
- Deixa-te de tretas. Vamos embora!
- Não posso.
- Não podes?!?...
- Tenho de ficar ao pé da luz. Está a querer dizer-me qualquer coisa! É importante!...
- Importante?!? Ainda acabas é na Casa Amarela a apanhar choques eléctricos...
- Pois eu acho que há aqui uma entidade qualquer, um ser de outra dimensão, uma energia cósmica, a tentar estabelecer contacto comigo... Repara no cintilar, nas pequeninas explosões de luz... Isto não é electricidade!
- Não!... Isso não é electricidade... São miolos a fritar!
- O quê?
- Disse que tens os miolos a fritar. Deve ser do calor...
- Por acaso estou cheio de frio!... Não queres ligar o aquecedor?
- Mas tens o aquecedor no máximo! Nem sei como não te queimas, aí tão perto...
- Shut!... Escuta!...
- Bom, vou-me embora! Depois conta-me o que te disse o ET...


8.
Assomados, com o andar titubeante das vítimas da realidade absoluta, desfalecemos em convulsões de electrochoque no turbilhão da engrenagem triturante que nos transportou em sucessivas oscilações sísmicas para o apaziguamento da indiferença e o amargo isolamento da solidão. Nada é o que era, nada foi o que sonhamos, apenas visões esfumadas ao contacto da memória, apenas imprecisas impressões de um tempo gasto pela usura. Tivemos o mundo, fomos o mundo...
Salve, cadáveres brancos da inocência!
Salve, corpos belos do amor!
Salve, feiticeiros da embriaguez permanente!
Salve, magos da existência não fragmentária!
Salve, pederastas do desejo, junkies do caos, prisioneiros da liberdade!
Salve, irreprimível lúdico!
Salve, criadores de vida, amantes da infância, viciados do presente!
Salve, orfãos perdidos!
Salve! Salve! Salve!


Mão Morta, nus

...as palavras dos sons...

pedalling through
the dark currents
i find an accurate copy
a blueprint of the pleasure in me

swirling black lilies totally ripe
a secret code carved

he offers a handshake
crooked - five fingers
they form a pattern
yet to be matched

on the surface simplicity
but the darkest pit in me
is pagan poetry - pagan poetry

morse : coded : signals
they pulsate : they wake me up
from my hibernate

on the surface simplicity
but the darkest pit in me
is pagan poetry - pagan poetry

i love him
this time
i'm gonna keep me to myself
this time
i'm gonna keep my all to myself
she loves him
but he makes me want to
hand myself over


Pagan Poetry - Björk

...sons...

Björk - Pagan Poetry

...palavras...

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não Chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
a ao que é o dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.


Sebastião da Gama

maio 03, 2004

de volta...

há já algum tempo que não passava por aqui... no entanto, nada mudou entretanto.


sons de hoje...

Mão Morta - Mão Morta
Deftones - Deftones
Björk - Family Tree/Greatest Hits


palavras de hoje...

Eu

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca! -
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre atua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!


Florbela Espanca, Sonetos