dezembro 29, 2004

Gosto...

de pingos de chuva a escorrer nos vidros das janelas,
das gargalhadas dos meus amigos,
do som da chuva lá fora,
do quente da cama,
da Lua,
do sol de um fim de tarde de Outono,
de um banho quente,
de ouvir música,
da companhia da família,
de desafios,
de ver a trovoada no mar,
das mensagens dos amigos,
de receber cartas,
de ler um livro,
de escrever o que me apetece,
de cogumelos,
do arco-iris,
de astrologia,
de ver, cheirar e sentir o mar,
da minha cidade,
de ir a festivais,
de massagens na cabeça,
de elogios,
de uma conversa interessante,
de confissões ao ouvido,
de acampar,
de beber café com os amigos,
do campo,
de olhar para o céu à noite,
de visitar os amigos,
das folhas de ginkgo biloba,
de andar de combóio,
de observar as pessoas,
de passear na areia no Inverno,
de aprender,
de falar,
de contemplar as árvores,
de um abraço apertado,
de cheirar a natureza,
de rasgar papel,
de criticar,
de sítios frescos, no Verão,
de beijos sentidos,
de Coimbra à noite,
de um gelado,
de ensinar,
de estar sozinha,
de conhecer pessoas,
da noite,
de falar com estranhos,
de trabalhos manuais,
de dar prendas e receber,
do escuro,
de ver o pôr-do-sol no mar,
de fazer surpresas e ser surpreendida,
de andar de bicicleta,
de sentir o cheiro de um caderno novo,
da Índia,
de vestir roupa nova,
de dormir,
do cheiro a incenso,
do sol a entrar pela janela,
do cheiro a maresia nas manhãs de nevoeiro,
de ver nascer o sol na praia,
de me espreguiçar,
de me esticar na cama a ouvir música,
de animais,
de uma almofada fofinha,
de roupa diferente,
de ver fotografias,
de abrir a boca,
de agasalhos quentes,
de rir,
de ouvir os outros e ser ouvida,
de me sentir cansada,
da calma do Inverno,
da excentricidade,
das folhas secas num chão de Outono,
das coisas simples,
de beber leite quente ou frio,
de ir à praia,
das cores da Primavera,
de livros e discos,
de ir ao teatro,
de ver espectáculos de dança,
de beber água fresca,
de assistir a concertos de copo na mão,
de decoração,
do cheiro a cachimbo,
da honestidade,
de perfumes frescos,
de mudar de visual,
de preto,
de cantar as músicas que gosto,
de conduzir,
de viajar,
de tantas outras coisas, que agora nem me lembro...

Mas gosto, principalmente,
daquilo em que me transformei, por ter consciência de tudo isto...

dezembro 16, 2004

The Noose

So glad to see you well
Overcome and completely silent now
With heaven's help
You cast your demons out
And not to pull your halo down
Around your neck and tug you off your cloud
But I'm more than just a little curious
How you're planning to go about
Making your amends to the dead
To the dead

Recall the deeds as if
They're all someone else's
Atrocious stories
Now you stand reborn before us all
So glad to see you well

And not to pull your halo down
Around your neck and tug you to the ground
But I'm more than just a little curious
How you're planning to go about
Making your amends to the dead
To the dead

With your halo slipping down
Your halo slipping
Your halo slipping down
Your halo slipping down
Your halo slipping down [repeated]

Your halo slipping down to choke you now

A Perfect Circle

dezembro 07, 2004

O Corvo




Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhão também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Nauqele veludo one ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!


Fernando Pessoa


[Traduzido de The Raven, de Edgard Allan Poe, ritmicamente conforme com o
original]

dezembro 06, 2004

mundo bizarro

esta frase não me tem saído da cabeça desde que me levantei ontem... nunca alguma música me ficou a martelar tanto na memória, como esta...

ser tão perfeito é ser só uma metade
e ninguém imagina o que te passa no fundo
é estranho quando dou por mim num mundo bizarro
e mais ainda quando lá o mais bizarro do mundo sou eu...

é assim que me tenho sentido em relação à vida, nos últimos tempos...

séries na 2:

neste último sábado, tivemos dose tripla de boas séries da 2:
durante toda a semana pudemos reviver os dramas de quem vive o início da peste do séc. XX - a SIDA - em Anjos na América. esta série fabulosa, regressou aos ecrãs, para as comemorações do Dia Mundial da Luta Contra a SIDA - 1 de Dezembro.
Para não perder a pedalada, logo a seguir a um curto intervalo (os da 2: são mesmo bons por isso), mais uma dose dupla de Sete Palmos de Terra. Mais uma espectacular série, que trata da relação da vida (e dos vivos) com a morte (e com os mortos) e foca ainda, um tema ainda tabu na nossa sociedade - a homossexualidade (neste caso masculina).
este sábado tivemos, portanto, cerca de 4h de boa televisão [para não variar] na 2:
e que bem que soube...
para continuar... às segundas, os Sopranos! Não esquecer! :) É mais uma série que não se pode [nem deve] perder!

dezembro 02, 2004

perfect like a circle



Clever got me this far
Then tricky got me in
Eye on what i'm after
I don't need another friend
Smile and drop the cliche
'Till you think I'm listening
I take just what I came for
Then I'm out the door again

Peripheral on the package
Don't care to settle in
Time to feed the monster
I don't need another friend
Comfort is a mystery
Crawling out of my own skin
Just give me what I came for, then I'm out the door again

Lie to get what I came for
Lie to get just what I need
Lie to get what I crave
Lie and smile to get what's mine

Eye on what i'm after
I don't need another friend
Nod and watch your lips move
If you need me to pretend
Because clever got me this far
Then tricky got me in
I'll take just what I came for
Then I'm out the door again

Lie to get what I came for
Lie to get what I need now
Lie to get what I'm craving
Lie and smile to get what's mine

Give this to me
Mine, mine, mine
Take what's mine
Mine, mine, mine
Take what's mine
Mine, mine, mine

Lie to get what I came for
Lie to get what I need now
Lie to get what I'm craving
Lie to smile and get what's mine

Give this to me
Take what's mine
Mine, mine, mine
Take what's mine
Give this to me

Take what's mine, take what's mine, mine...
Take what's mine, take what's mine, take what's mine,
This is mine, mine, mine [whispered]

The Package, A Perfect Circle