setembro 28, 2004

Mangaldas, ritmos e sons da Índia

Ontem fui ver o espectáculo de Aditi Mangaldas, ao Teatro Académico de Gil Vicente, na cidade da saudade, com a minha mana.
Aditi, indiana de corpo e alma, nascida em Nova Deli (capital da Índia), regressou a Portugal passando, desta vez, também por Coimbra.
O espectáculo já tardava... Eram 22h e o público juntava-se no bar do TAGV. Adivinhava-se uma casa cheia. As portas abriram e a sala depressa começou a fervilhar de curiosidade, para ver a rainha do kathak.

Apagaram-se as luzes... e abriu-se a cortina...



Aditi Mangaldas

Aditi Mangaldas, desde cedo enveredou pela dança. Em reuniões de família, saltava para cima da mesa e "não dispensava os aplausos". Embora não houvesse ninguém na família ligado à dança, a sua escolha fora respeitada. Foi assitida por professores conceituados na área do kathak, com quem viria a aprender a "essência da dança, a necessidade de liberdade criativa, o arrojo e a relação do corpo com o espaço que o rodeia".
Embora execute com rigor as técnicas do kathak, Aditi dá-lhe forma e alma, aplicando-lhe a sua visão contemporânea, juntando-lhe influências do ioga.

O Kathak
é na Índia, uma das seis danças clássicas com maior importância e é considerada uma das mais dinâmicas artes de palco do mundo. A sua origem remonta ao tempo em que, artistas nómadas do norte da antiga Índia - kathakas - narravam histórias de conteúdo épico, moral e mitológico, nos templos e praças das povoações, com recurso à dança, música e mímica. Enriqueciam os recitais enfatizando os gestos de mãos e expressões faciais.
Gradualmente entrou nas cortes dos dirigentes hindus e muçulmanos, passando a emergir grupos de dançarinas e cortesãs cuja função era o mero entretenimento dos palácios. A meio do século XVIII, começa a dar-se a verdadeira revolução do kathak e, a partir daí, é enquadrado num elevado estauto da arte da dança tradicional.
A técnica do kathak actual baseia-se num trepidante bater de pés (nus), que corresponde a ritmos complexos e movimentos corporais por vezes estonteantes, em diálogo com os sons da percussão,
pakhawaj [espécie de djambé], sarangi [instrumento de cordas] ou vocais. [Acompanhados ainda pelos ghungroo regidos pelos movimentos de Aditi].
O kathak deu origem a várias escolas na Índia que correspondem a diferentes características, mas com um traço comum: não abalaram a sua tradição.

(in Programa do espectáculo)



O espectáculo

1ª parte

texturas de som
vestes negras, percorrem o palco acompanhando o ritmo dos sons e das vozes, "cria[ndo] padrões espontâneos e desenha[ndo] novas paisagens sonoras".

texturas de silêncio
vestes brancas. o silêncio cai na sala. e ele move-se... e dos movimentos se faz música...
"Poderemos ouvir a música do silêncio?"

2ª parte

verão / solo
vestes vermelhas, cor de sangue...
"o fogo que me consome a alma, devora também o meu corpo"

texturas de paixão
vestes negras e ventos fortes, "caprichosos e incontroláveis"...
"ondas de total abandono devoram-nos e atiram-nos para o desconhecido absoluto"

e de cores, sons e movimento se fez este espectáculo, onde até a água marcou presença...