outubro 22, 2005



a memória é como a esperança da minha mãe na noite em que me ergueu à lua e, sem saber, me escolheu um destino. lembro-me de quando nos conhecemos e esse dia está debaixo do teu olhar e desta noite. lembro-me da minha mão pousada sobre a tua e esse instante está debaixo da palavra solidão. lembro-me de tantas coisas impossíveis. agora, caminho por esta manhã deserta. as pedras do passeio existem debaixo dos meus passos. ninguém, nem sequer eu próprio, me pergunta para onde vou. nas ruas desertas, sou uma multidão de gente mutilada a caminhar. sou aquele que, esta noite, te viu partir, que olhou para ti quando os teus olhos se despediram e que não pôde fazer nada senão olhar para ti, o teu corpo, e vê-lo afastar-se, cada vez mais longe dos meus braços.

jose luís peixoto, in antídoto